A dádiva de se reconstruir, de se reinventar. A humildade de reconhecer quais foram os pontos de erro para reciclá-los e transformá-los em melhoria. Essa é a fase na qual o Palmeiras está vivendo hoje. E está dando certo.
Desde a conquista da Copa dos Campeões, em 2000, o Verdão veio passando por momentos muito delicados em sua história. O clube não soube se reconstruir após o fim da "Era Parmalat". O time se apegou aos dias de glória, viveu preso nos contos de fada dos seus dias sublimes e esqueceu que o pra sempre, sempre acaba. E acabou.
Quando a Parmalat foi embora não demorou muito para que a reputação do Palmeiras se fosse junto. Não que precisássemos deles para sermos grandes. O Palmeiras é maior do que qualquer empresa do Planeta. Mas era momento de reciclagem, remontagem, reinvenção. Algo que não fizemos.
Em 2002, aconteceu a primeira das duas - e eu espero que únicas - maiores tragédias da história palestrina. Fomos rebaixados para a Série B do Campeonato Brasileiro. Algo, até então, inédito na história do Palmeiras, mas que naquele ano acabou batendo na porta de Parque Antárctica. E nós, de maneira solene, tivemos que, em luto, abrir.
Sabíamos que havia chegado a hora da mudança, momento de aprender com os erros. Todavia, aqueles que eram responsáveis por gerir o nosso futebol e responder pela entidade foram omissos, presos nas convicções do Palmeiras pelo próprio Palmeiras. Para eles o acesso viria pela força do verde da esperança, verde da vitória, verde do Palmeiras.
Fomos campeões da Série B em 2003 e voltamos para a elite do futebol no ano seguinte. Para muitos era a ressurreição palestrina, mas na realidade tudo aquilo não passou de uma ilusão alviverde. Isso se explica pois qualquer tipo de ressurreição vem após uma morte. E essa morte, em âmbito desportivo, faz reavaliarmos conceitos e pontuar erros, para que eles não possam tornar a assombrar-nos.
No Palmeiras não foi assim. Persistimos nos erros, presos em uma grandeza que nos foi adquirida com o tempo, mas que daquele jeito poderia ser perdida também com o tempo.
Do nosso retorno à primeira divisão do Campeonato Brasileiro, em 2004, até o nosso segundo desastre, em 2012, foram oito anos. Neste meio tempo disputamos nove Campeonatos Paulista, com a conquista de apenas um título, duas chegadas às semifinais e seis campanhas como coadjuvante. Já em Campeonatos Brasileiros foram outras nove campanhas e nenhum título, três classificações para a Libertadores e mais seis campanhas como coadjuvantes. Também disputamos sete competições continentais neste intervalo de tempo, foram três Copas Libertadores e quatro Copas Sul-Americana. Na Liberta foram duas eliminações nas oitavas (ambas contra o São Paulo) e uma nas quartas de final (diante o Nacional do Uruguai). Pela Sul-Americana foi uma eliminação ainda na fase nacional, uma nas oitavas, uma nas quartas e, em 2010, uma vexatória eliminação de virada diante o Goiás na semifinal, em pleno Pacaembu, após vencermos em Serra Dourada na partida de ida. E por último, mas não menos importante, também jogamos a Copa do Brasil. Esta, disputamos seis vezes, com apenas um título - conquistado em 2012, ano do segundo descenso -, três eliminações nas quartas de final e uma na segunda fase frente ao modesto Ipatinga em 2007.
Isso fora sofrer goleadas para times que, com todo o respeito, não possuem 1/3 da história do Palmeiras, casos como os de Coritiba e Mirassol. E o Campeonato Brasileiro de 2009 que até hoje não engolimos.
E enquanto patinávamos no limbo do ostracismo, víamos o Santos ser bi e tri campeão consecutivo do Campeonato Paulista, chegando em nove finais consecutivas em Campeonatos Estaduais e chegando ao título da Copa Libertadores em 2011; Víamos o São Paulo conquistando o Paulistão em 2005, ser tri-campeão brasileiro consecutivo, conquistar o nosso Continente e, não satisfeito, ganhar, também, o Mundo; E o pior, víamos o Corinthians conquistar o estado em 2009 e 2013, o Brasil em 2005 e 2011, a América, pela primeira vez, em 2012 e o mundo no mesmo ano.
Ah, e víamos nós que quando conseguíamos um espaço como coadjuvante entre eles alcançávamos, ou até superávamos, as nossas projeções. Muito pouco para a nossa grandeza.
E em 2012, quando caímos, veio junto uma nova gestão para administrar a grandiosa Sociedade Esportiva Palmeiras. E junto com essa nova gestão veio a desconfiança.
Em 2013 veio o acesso, mas também a desconfiança continuava.
Em 2014 a austeridade financeira e quase um novo rebaixamento. Junto com eles, além da desconfiança vieram os xinamentos e a revolta.
Mal sabíamos nós, torcedores, que tudo isso fazia parte de um processo de renovação e reciclagem. Finalmente, aprendemos com os nossos erros.
Hoje, o Palmeiras tem espírito de Palmeiras. Hoje temos um time, um elenco, uma identidade, uma entrega.
E nesse domingo (26), após a vitória por 4 a 1 sobre o Vasco da Gama na nossa 15ª partida pelo Campeonato Brasileiro de 2015, terminamos, pela primeira vez, uma rodada do Brasileirão na zona de classificação para a Copa Libertadores da América de 2016. Claro que o campeonato é longo. Claro que muitas águas ainda irão passar por baixo da ponte. Porém nós voltamos a acreditar e isso é o mais belo e o que importa no momento.
ótimo testo, parabéns ! ! !
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