Meu Jogo Inesquecível - Lavando a alma numa quinta molhada


Abrindo os trabalhos da nova série do blog “Meu Jogo Inesquecível”, escolho um jogo que não nos levou a lugar nenhum, contudo, naquele inferno de vivíamos, daquela maneira que a torcida se comportou, do que o Palmeiras jogou, do que vivi naquela quinta-feira chuvosa em São Paulo, faz ser minha escolha. Naquele dia aconteceu o momento mais fantástico de minha memória de quase 15 anos desde que entrei no estádio pela primeira vez em 2001, na estréia com gol de Dário Muñoz em mais um dia chuvoso de futebol, contra o São Caetano. Não, não foi esse jogo que escolhi e sim Palmeiras 1 x 0 Libertad/PAR pela Libertadores 2013.

Desde quando saiu o sorteio dos grupos da Libertadores, lá no dia 21 de dezembro de 2012 (colei a data da internet), também conhecido como o dia do final do mundo pelo filme de qualidade duvidosa “2012” e também conhecido como o dia do meu baile de favel...ops, perdão, de formatura do Ensino Médio, coloquei na cabeça que precisaria ver esse jogo no estádio.

Mesmo sabendo que provavelmente não iríamos longe naquele torneio, como não fomos, estava muito empolgado, pois seria a primeira Libertadores que teria a honra de ver algum jogo no estádio, algo que sempre foi um sonho, já que as participações anteriores, meu pai não me levava em questão de idade. Entendo ele, pai receoso, natural.

Fui contra Sporting Cristal e Tigre também, as vitórias verdes vieram em ambas, foi legal, mas na minha cabeça sempre pensava em Palmeiras x Libertad, e finalmente chegou dia 11 de abril de 2013, um dia que sempre me marca, pois nove anos antes, foi exatamente o dia que meu pai saiu de casa e a ficha caiu sobre a separação de meus pais, enfim, acho que isso é capítulo de outra história. Naquela quinta-feira, acordei pontualmente às seis da manhã, pois precisava ir ao cursinho, peguei a primeira camisa branca do Palmeiras na minha gaveta, rumei à aula.

Algo diferente aconteceu ali, na aula de Biologia do fantástico professor Daniel, Lusitano fanático, ele tinha um lema “não falo de futebol em aula, a não ser que seja para falar bem da Portuguesa, ou mal do São Paulo”, contudo, num momento da aula ele olha para mim e fala “Hoje vocês jogam a vida”, fiquei com a aquilo na cabeça, voltei para casa, vi o programa esportivo com os nervos acima do normal. Deram três horas, chamei minha mãe e disse que estava indo para o jogo, a partida era só às 19h15, entretanto eu queria viver aquilo de perto. Tomei banho, troquei de roupa, dessa vez com uma camisa verde. Rumo ao Pacaembu por volta de 15h30.
Praça Charles Miller num jogo do Alviverde
Dei sorte na ida, estava no metrô quando começou a chover absurdamente, cheguei cedo, por volta de 17h15, duas horas antes do jogo, coisa maluca, pois não era meu hábito chegar cedo, até tenho fama de atrasado. Voltou a chover, fiquei na Praça CHARLES Miller por um tempo, sozinho, observando todo aquele momento, aquele movimento das pessoas entrando ao Pacaembu. Não lembro a hora que entrei, só lembro que ainda era dia, subi na arquibancada amarela do Pacaembu, que estava molhada pela chuva naquela quinta-feira, assim como minha camiseta verde, com o tempo, não dava para ver a tal arquibancada amarela molhada, nem as cores de outros setores, só as camisas verdes, verde-limão, brancas, azuis. Independente da cor da camisa palmeirense, via a confiança de todos no olhar.

Antes do jogo começar, o estádio estava a pulsar, os pelos arrepiar e o coração disparar, estávamos em festa, era diferente de tudo que via nos últimos meses, melancolia de um rebaixamento recente. Deu 19h15, o jogo começou, o alviverde com 684 volantes, a bandeira da torcida subiu molhada. Palmeiras começa com o Henrique cabeceando para fora, foi um primeiro tempo até que morno dentro de campo, só ficava quente quando o Vinícius pagava a bola e ia para cima, que partida do menino, o melhor em campo. Intervalo veio e a confiança continuava em nossos olhares e cantos.
Charles, o autor do gol da vitória
Chegou o segundo tempo, logo no início uma tentativa de calcanhar do zagueiro/volante/lateral e antiga estrela da TV Palmeiras, Marcelo Oliveira, onde o goleiro do clube paraguaio fez a defesa a queima-roupa. Aos 7 minutos, estávamos cantando “eu canto, eu sou Palmeiras até morrer”, Wesley fez o que fazia de melhor, ou pior, chutar errado, mas a bola incrivelmente sobrou nos pés de Charles, que finalizou entre as pernas do goleiro Rodrigo Muñoz. GOOOOOL. A bandeira molhada subia mais uma vez, quem se importava com aquilo? Só com a festa, a comemoração e ali tínhamos certeza que diferente de outros jogos, aquele era nosso. 


Minutos depois, Wesley foi expulso (poderia ter sido expulso do alviverde ali mesmo), mesmo assim não nos assustamos. Mesmo quando Maurício Ramos, que fez um grande jogo, quase fez um gol contra, mesmo quando Fernando Prass realizou uma ótima defesa com o pé. Libertad pressionou em vão, aquela noite de Libertadores libertou milhões de torcedores verdes na Terra, aquela noite foi Palmeiras.

Saio do estádio, vou em direção a estação Clínicas, lotada, todos cantando, pulando como se fosse a extensão do Pacaembu, do Porcoembu, batendo na laterais da escada rolante que estava sem funcionar, no metrô, cantos continuavam a ser ecoados pela torcida verde, até que num breve momento de silêncio, ligo o rádio e o Mauro Beting recita um texto que acabara de escrever sobre o jogo, a emoção tomou conta, lágrimas que não vieram, não sei porquê, mereciam ter caído, no entanto ali era a cereja do bolo, era o fato final daquele dia perfeito.

Teve mais cantos de torcida até eu chegar em casa, claro, que cada vez menos pessoas em cada estação que passava, todavia, com o mesma energia de quando saiu o gol verde. Demorei para dormir, sei lá se dormir, não lembro, só sei que na sexta-feira minha rotina voltou ao normal depois de um dia inesquecível, de um jogo inesquecível.

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Autor: Matheus

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