Muricy, basquete adulto e tabus

Muricy deu errado no Palmeiras num ano que tudo poderia dar certo. Foto: O Globo


Minha infância foi um tanto quanto complicada, me refiro ao futebol: apesar dos 6 anos de idade, não sabia muito bem da importância da Libertadores nem o quão dolorosa foi a derrota para o Manchester, no mundial, em 1999; o efeito do primeiro rebaixamento não foi tão agudo (2002). Em 2009, senti a possibilidade do título nacional pintar no desbotado Palmeiras até então, bem, no Brasileirão.

Jorginho entregou a Muricy Ramalho um Verde que acabara de golear o Corinthians por 3 a 0. Em tese, para um treinador tricampeão do campeonato de pontos corridos, não seria uma missão tão dura ser campeão, mas foi. E muito. Pouco a pouco se tornou impossível. Lesões, a briga de Obina e Maurício, um título que escapara rodada após rodada, culminando na derrota na última para o Botafogo. Revés tão grande a ponto de deixar o Verde fora da Libertadores do ano seguinte e fez meu bolo de aniversário ter um gosto extremamente amargo.

Muricy não deu certo no Palmeiras. É um sujeito trabalhador. Reclamaria sobre alguns erros no clube, mas jamais da dedicação. Cansou. O corpo por pouco não parou por causa desta loucura que o futebol remeteu em sua vida. Descanse em vida, treinador.

Basquete

Estive ausente das redes sociais por algumas razões e acompanhei, embora de longe, a animação de torcedores para a volta do basquete adulto do Palmeiras. E, como imaginava, seria difícil o tal retorno da bola laranja no ginásio palestrino.

Boatos ecoavam com cada vez mais força no clube. Teve quem confirmou, mas, reforçando: boato não é fato. Então, claro, havia uma pendência para o momento de postar algo oficial.

Através de Leandro Iamin, veio a notícia do veto de Paulo Nobre, em relação à volta do basquete adulto palestrino, frustrando planos de torcedores, principalmente de quem acompanhava mais de perto o esporte e sonhava, como uma criança que pretende ser astronauta um dia, trazer mais pessoas ao concreto confortável que é o ginásio Palestra Itália. Não foi dessa vez.

O NBB conseguiu patrocinadores, apesar dos tempos de crise, e, invariavelmente, o campeonato melhorou. O Palmeiras podia seguir no mesmo rumo, porém, ainda por questões financeiras, apenas o time sub-22 atuará numa categoria de desenvolvimento, além das inferiores. A equipe adulta continuará na geladeira e não se sabe quando voltará. Por questões de respeito e história, a demora se torna dolorosa e silenciosa ao mesmo tempo.

Tabu e tabus

São Paulo, Palmeiras, Morumbi e torcida única, estes foram os fatores pré-estabelecidos à peleja na casa são-paulina. 21 mil pessoas e algumas delas palmeirenses, que deram um jeito de estarem no estádio mesmo sem ser convidados e desrespeitados por uma determinação que só prejudica o esporte, da maneira de torcer.

Os 10 primeiros minutos contaram com ataques do Verde: três chances e uma perspectiva interessante, que, logo foi destruída com o gol de cabeça de Ganso, aos 11. Após o tento do clube mandante, a partida assumiu nova face, desfigurando o Palmeiras, não tanto quanto o rosto de Denis após uma dividida com Alecsandro. O domínio foi amplo, mais precisamente do meia do SP, proporcionando tudo o que faltou ao time palmeirense: calma e objetividade com a bola nos pés.

Atuações de Dudu, pelo meio, Gabriel e Roger Guedes pelas pontas foram para ser esquecidas ou, no mínimo, serem lembradas para melhor reflexão. Zé Roberto, pela carreira brilhante, atuou ou deixou de atuar, sucumbiu ao time adversário. O tempo cobra e o segundo foi implácável. O 1-0 não parece apertado pelo simples fato de Prass defender até o que não podia, botando na conta outra atuação em altíssimo nível pelo Palmeiras.

O tabu está mantido: 21 jogos e 14 anos sem vitórias palestrinas no Morumbi. O golaço de Alex, em 2002, foi tão marcante que selou a última vitória por lá e chega a ser lembrada com certa facilidade, apesar do tempo passado.

Thiago não afasta e Ganso cabeceia sem chances para Prass. Foto: Folha
A derrota no clássico, em tese, não seria danosa a ponto da equipe se perder, mas evidencia a dificuldade de Cuca para equilibrar o Palmeiras. Vale lembrar que em casa, a proposta palmeirense é forte, atenta e marcação alta nos adversários; fora, foi outro papo de um time que poderia ter feito mais contra outro que fazia menos até um tempo atrás. O tabu no estádio do Morumbi é chato, indigesto e durará por mais uma temporada, mas outro e ainda maior é o foco do Verdão para ser quebrado: de quase 22 anos sem ser campeão brasileiro. Após a pancada de 2009, a perspectiva não era tão boa até agora, nesta temporada de 2016, acima de 2015, inclusive.

É cedo para jogar o sonho na lata, mas é obrigatório jogar nesta mesma lata qualquer má impressão, com uma sequência duríssima, porém interessante contra Grêmio, Flamengo e Corinthians. É a chance, chances, necessariamente. Aprendizado rodada após rodada - e a oscilação deve aparecer mais para frente -, como uma equipe que tem tudo para crescer na competição que adora derrubar opiniões e aumentar tabus. Este, se depender da convicção de Cuca, está com seus dias contados, mas conta com a absorção dos jogadores também.

Desde 2009 não sabia o que é ter perspectiva por causa de time de nível interessante, mas, timidamente, sempre tive por causa da camisa. Muitas provas estão por vir, ou jogos, melhor.

Que a sua leitura seja tão boa quanto a de Cuca para reparar eventuais erros neste time do Verdão.
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Autor: Thiago

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